segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Bendita chuva

- Já são quase dez horas, acho que eles não voltam hoje!
Chovia torrencialmente em São João Del Rei e as famílias de Betina e Sandoval resolveram passar o fim de semana no sitio dos pais de Sandoval, era uma casa grande cercada de campos verdes, sem vizinhos. O lugar trazia uma sensação de paz, tranqüilidade e liberdade. Quem tomava conta era o seu José, caboclo mineiro, daqueles que adorava o sossego e uma branquinha, durante a semana ele cuidava de tudo, plantava, fazia queijo, goiabada, cuidava das criações e dos reparos.
No fim de semana ele ficava na cidade, bebia e contava causos e bebia, bebia e bebia na segunda ele voltava para o sitio e a rotina de trabalho, beber mesmo só no fim de semana, durante a semana era uma antes do almoço, uma antes do jantar e duas antes de dormir, ele era disciplinado.
Na varanda do casarão Betina e Sandoval esperavam pelos pais, seu José estava na cidade e eles estavam sós.
-Tininha, não se preocupe a estrada deve estar perigosa e eles devem ter ficado por lá.
-Eu não estou preocupada com eles, só queria saber se eles voltam ainda hoje. Betina deu um sorriso sapeca para Sandoval que, acreditem, entendeu tudo.
- Senta aqui um pouco e observe. – Pediu Sandoval.
Tininha sentou e olhou para o infinito verde no começo e depois escuro.
-Você acha que não conseguiríamos perceber se eles estivessem voltando? – Indagou Sandoval.
-É verdade, daqui temos a visão de tudo. – respondeu Betina.
Sandoval beijou Betina apaixonadamente, Betina sentiu que aquele era o momento certo, olhou-o nos olhos com aquela carinha de menina assustada e disse:
-Tô com medo Sandô, eu estou morrendo de vontade, mas estou com medo.
A primeira vez é o encontro com o desconhecido, expectativa, ansiedade e, é claro, o medo.
Sandoval estava decidido e sabia que muita coisa dependia única e exclusivamente dele, afinal a tão esperada primeira vez deles seria algo que eles se lembrariam para sempre.
- Tininha, eu também tenho medo, mas a paixão e o amor que sinto por você são maior que tudo.
Beijou novamente e sentaram-se um de frente para o outro, o som da chuva misturava-se com os gemidos de Betina. Sandoval desnudava-a enquanto contemplava aquele corpo maravilhoso de pele bronzeada, sentia os seios rijos roçando seu peito enquanto se beijavam, os dois estavam embriagados de tanto desejo.
Subitamente Sandoval pegou Betina no colo e se dirigiu para o interior da casa.
-O que você está fazendo? – perguntou Betina.
-Te levando para o quarto! – respondeu Sandoval sem se importar.
Em minutos os dois estavam nus, explorando cada milímetro um do outro, curvas e retas, sabores e gemidos no ritual sagrado dos amantes.
Os dois descobriam os mais variados sabores do amor na alquimia do beijo, viajaram por outras dimensões na magia do toque.
- Não agüento mais meu amor! Te quero dentro de mim, por favor! – suplicou Betina.
Sandoval quase não conseguia falar de tanto desejo e respondeu algo entre um gemido e um sim.
Sandoval posicionou-se sobre o belo corpo de sua amada Betina e com toda a gentileza e firmeza exigida na ocasião foi invadindo o corpo de Betina, que extasiada apertava seu corpo contra o dele.
Sentiam o calor dos corpos e o sal de suas peles entre beijos, mordidas e sons desconexos, naquela hora eles se tornaram apenas um.
Apenas um gemido, um sabor, um movimento, uma explosão.
Betina chorava compulsivamente, parecia que sua alma saíra de seu corpo e que descobrira um novo mundo.
-Sandô, te amo!
-Eu te amo demais Tininha, fica comigo pra sempre?
-Pela eternidade! – respondeu Betina
A luz fraca deixava-os mais bonitos ainda, como se fossem uma gravura em óleo feita por um pintor apaixonado.





Continua...

Life's a beach

- Deus me livre! - bradou Tunhão no meio do caminho.
- O que foi Tunhão? - indaguei
- Nada, Deus me livre é o nome desse morro! hahahaha...
Era a primeira de muitas viagens que faria com aquele pessoal, todo ano, no mês de janeiro, eles acampavam naquela praia ou seria vilarejo.
- Porra, este morro me mata! - dizia o quase esbaforido Tunhão.
- Mas vale à pena, dá uma olhada!
Só então pude perceber a beleza daquele santuário, o mar azul, a praia quase deserta, exceto por alguns pontos que, provavelmente eram as barracas do pessoal que foi na frente.
- Bródinho cê vai gostar, marca essa data, porque você vai voltar aqui todos os anos!....hahaha.
Depois de uma hora e tanto chegamos e já estavam o primo Cabelo, primo Preto, primo da Lua, a Lua, o pequeno Siddhartha (pois é ele nunca perdoou os pais pelo nome, Siddhartha Gautama dos Reis) e o Nêgo boy com a nova namorada.
As barracas estavam em um semicírculo, o primo da Lua trouxe as barracas na komboza (naquela época uma barraca tinha quase o mesmo peso de uma casa) e assim que chegamos começamos a montar, faltando pouco para terminar, percebi um bicho grilo se aproximando.
- Salve Tunhão! - disse o bicho grilo, com muita intimidade.
- Fala Bagarai, quanto tempo meu bródi! - estranhei o nome, apelido ou sei lá o quê..
Depois de uma breve conversa Tunhão nos apresenta:
- Esse é o Bagarai, gente boa, estradeiro e agente de viagem oficial. - disse Tunhão.
- Mermão, se você é amigo da rapeize é meu bródi também, tá em casa! - firmando o dito com um abraço.
- Vai participar do campeonato? - perguntou Bagarai
- Acho que não... - disse sem saber do que se tratava.
- Vai sim, com certeza ele vai. - afirmou Tunhão com uma bela gargalhada!
Depois do almoço e da merecida siesta, o primo Preto, Tunhão, primo Cabelo e eu fomos dar uma volta para que eu pudesse conhecer aquele paraíso quase deserto.
- Que campeonato é esse que o Bagarai falou?
Eles se entreolharam, começaram a rir e disseram:
- Relaxa e faz o mesmo que a gente!
Mal acabaram de falar tiraram as bermudas e correram na direção do mar, eu fiz o mesmo sem questionar. Tem coisa melhor que nadar pelado?
Dentro da água eles disseram:
- Jacaré pelado, todo ano tem campeonato e já virou tradição aqui em Trindade!
Depois de quase uma hora "treinando", saímos da água e fomos para as pedras, onde Bagarai estava sentado com duas garotas, tocando violão.
Sentado ali pude admirar mais um pouco da beleza daquele lugar e entender o porquê do apelido Bagarai e melhor ainda, soube o porquê dele ser o agente de "viagem" oficial.
- Esse tá bom Bagarai! - exclamou Bagarai com certo orgulho.
A luz do entardecer tornava a paisagem mais bonita, o THC tornava as cores mais brilhantes e eu me sentia leve "bagarai".




Continua...

We love mães

- Acorda moleque, já são quase oito horas!
- Pô manhê, mais um pouco!
- Levanta senão jogo água. Quem mandou ficar até tarde assistindo filme?
- Tá, tá, tá! Sai da cama, sonolento enfie-me no jeans desbotado, vesti a camiseta e calcei o primeiro tênis que encontrei.
- Por que tanta pressa? - retruquei com a boca cheia de pasta de dente.
- Você sabe que gosto de ir cedo e voltar cedo, escova estes dentes direito!
- Vamos!
- O senhor já tomou o seu café?
- A gente come um treco por aí!
- Pra quê gastar dinheiro a toa? Senta e toma seu café!
- Tá, tá, tá!
- Come o pão! Você já bem grandinho e sabe que não se deve sair de casa com o estômago vazio!
- Estômago vazio!?!? hahahaha olha o tamanho da minha pança!
- Come presunto
- Não quero!
- Come queijo
- Não quero!
- Passa manteiga pelo menos
- Tá louca, quer me matar de colesterol!
- Você deveria pensar no colesterol quando come uma pizza inteira, hahahaha! - Pela risada vocês devem ter percebido que ela é gorda. Aliás, mãe gorda é um barato, tem aquela risada gostosa, cozinha bem, é brava e está sempre começando um novo regime.
- Não corre! Eu já disse que não gosto que corra. - disse ela agarrada no grip da porta.
- Mãe!!!! Estou a 60 se eu andar mais devagar o caminhão passa em cima da gente!
- Olha prá frente! Ai meus Deus quase bate! Prestenção!
- Mãe tem espaço para um carro ai na frente!
- bla bla bla...ai você é pior que seu pai no volante!
Ela é a única pessoa que tem carteira de habilitação há mais de 45 anos e não sabe dirigir.
- Pára aqui, enquanto você estaciona o carro eu vou comprando algumas coisas.
- Mãe aqui não pode! Não tá vendo?
- Um pouquinho só não tem problema...hahahahahaha! - e tome risada de gorda
- Onde a senhora vai ficar?
- Ah você me encontra! hahahahaha - o motorista do busão espanca a buzina nervosamente.
Quarenta e cinco minutos depois no meio da loucura que é a rua 25 de março encontro minha mãe conversando com outra senhora, nem a distância e tampouco a miopia permitiram-me reconhecer aquela senhora.
Puta que la mierda! Era a dona Noca! Dona Noca era o meu terror quando pequeno adorava beliscar, apertar, morder minhas bochechas, confesso que demorei a superar o trauma causado por aquela senhora.
- Ô meu filho quanto tempo! - e me tascou um beijo na bochecha, desses que fazem smackkk.
-Tá bonito, tá grisalho, um brotão hein? - agradeci meio ruborizado, incrível a capacidade dessas senhoras em me fazer sentir com oito anos de idade novamente.
- Pois é Noca, continua o mesmo moleque. - desabafou minha mãe - Você acredita que ele ainda anda de skate, nessa idade?
- É ele sempre foi maluquinho. - nessa altura eu queria ser um avestruz - Deu muito trabalho, mas agora é casado, tem família, eu sei que ele é um menino responsável. -senti uma pitada de sarcasmo no comentário, mas preferi ficar calado.
Meia hora depois elas se despedem e, acreditem ou não a dona Noca beliscou a minha bochecha.
- Coisa fofa da Noca!
Durante as compras a espera parecia infinita e eu com as sacolas no meio daquele empurra-empurra.
- Tio me dá um trocado? - eu já estava com a mão no bolso quando minha mãe dispara, de dentro da loja.
- Toma juízo menino, vá procurar um trabalho, um rapaz novo, forte, não tem vergonha de ficar esmolando por aí? - confesso que até eu fiquei com vergonha, mas mesmo assim dei uma moeda de um real.
Duas horas depois de muito "hahahaha", de olhar quase todas as lojas da região
(é claro que sempre carregando as sacolas), eu já estava meio estressado.
- Vamos comer? Quer comer oquê?
- Vamos de sanduba mesmo mãe!
- Então tá! Vamos ao mercado e comer pastel de bacalhau, hummmm! hahahahaha! Não sei por que carga d'águas ela me pergunta o que eu quero se ela já decidiu.
E toca eu voltar metade da Rua 25 de março com as malditas sacolas.
- Eu quero dois pastéis e um guaraná, daietí viu! - ela sacou o dinheiro.
- Ô mãe quer parar, dá até vergonha hein?
- Deixa de ser bobo moleque!...hahahahaha!
- Dois pastéis de bacalhau prá você, um pra mim e um sanduba de mortadela!
- E o colesterol? hahahahahaha!
- Ih mãe, não aporrinha!
- Tá meio frio né mãe?
- Pois é....hahahaha! - respondeu tirando uma blusa da bolsa.
- Eu não falei para você trazer um agasalho?
- Ah, mas eu não vou ficar andando com uma blusa e todas essas sacolas da madame!
- Azar o teu, eu tô quentinha, hahahahaha! - mãe não tem jeito, não erra uma!
- Toma, mas da próxima vez eu vou deixar você passar frio. - disse ela tirando uma camisa de flanela da bolsa.
- Hahahahahaha! Escuta teus pais para que te vás bem na vida (senão me engano é uma passagem bíblica) - em seguida tascou uma dentada no pastel de bacalhau.
- Sabe mãe a única pessoa que me irrita, que consegue me tirar do sério, é você! Ô mulher implicante, cri-cri.
- Hahahahaha! Você é meu e eu te conheço muito bem moleque!
- Mãe, eu te amo, você consegue me irritar, mas eu te amo muito!
Ela não disse nada apenas colocou minha cabeça em seu ombro para que eu me sentisse um menino novamente.

Sabe o que é wabi sabi?

Não existe nada melhor que uma boa conversa, dessas que fluem naturalmente, onde você ri, fica sério, se emociona. Dessas que você sai renovado, com gostinho de "quero mais".
Outro dia numa conversa dessas, com uma pessoa muito bacana, lembrei do wabi sabi.
Já sabe o que é wabi sabi?
Conversávamos sobre as imperfeições, físicas, sentimentais e emocionais.
Já repararam que hoje em dia tudo tem que ser perfeito?
Ninguém se contenta com uma barriguinha, uma ruguinha, uma cicatriz, um seio flácido, o tamanho do pênis, calvície, bom deixa eu parar por aqui, pois essa lista não tem fim.
Não chegar em primeiro lugar, não ser o melhor, não cumprir a meta, ter que desistir de algo é motivo para começar a fazer analise, regressão, trabalho com o pai Dito.
Um porre daqueles, um olhar analítico, o esquecimento de alguma data, uma brochada ou até um traque solto involuntariamente na hora errada pode ser motivo de divórcio.
Aposto que você deve estar pensando que esqueci o titulo do texto, mas era exatamente sobre estes assuntos que conversamos quando lembrei do wabi sabi.
Aprendi este termo na minha adolescência, no auge da minha arrogância, dizendo ao velho mestre o quanto gostaria de ser perfeito (hei! não esqueça que eu era um adolescente) rápido, forte, sábio, bla, bla bla.
Ele simplesmente me interrompeu dizendo, wabi sabi.
- Wabi sabi é saber encontrar a beleza no imperfeito, no inacabado, no feio. Disse ele num português macarrônico.
- Você nunca será eterno, pois tudo é impermanente. Você nunca saberá tudo, pois tudo é incompleto. Você nunca será perfeito, pois todas as coisas são imperfeitas. Continuou ele.
- Encontre a beleza no simples, no incompleto, no imperfeito e talvez você não sofra tanto no futuro.
Demorei para entender o que ele me disse naquele dia e talvez não tenha entendido até os dias atuais, mas sacumé, wabi sabi.




A música acima é a tradução perfeita da filosofia wabi sabi e foi composta pelos monges madalenicos pinheiristícos e trapianos Tony "Pituco" Freitas & Carlos "o chacal" Castelo.

Anjo bêbado


Nem ele mesmo conseguia se reconhecer, a barba enorme, a roupa amarrotada, o cheiro de azedo, o olhar distante como se estivesse olhando para o nada.
Nem em seus piores pesadelos ele imaginara que chegaria a esse ponto.
Seria este o tal fundo do poço?
Será que aquele garoto bem nascido e criado de São João del Rey se tornaria mais um indigente internado em algum manicômio ou um numero em algum cemitério da megalópole paulistana?
Dentro da bolsa tiracolo ele carregava duas garrafas de cachaça barata, estava fora de casa há mais de duas semanas, vagando pelas ruas da paulicéia, sem rumo, sem documento, sem esperança.
Betina simplesmente evaporou, não levou nada, não deixou bilhete, não disse adeus. Sandoval procurou por Betina em todos os lugares, no trabalho, delegacias, hospitais, casa de amigos e até em São João del Rey, durante dois meses ele procurou em todos os lugares imagináveis.
Reconstitui todos os passos da última manhã que estivera com Betina.
Será que ele tinha feito algo errado?
Será que nos dias anteriores ele cometera algum deslize?
Não havia explicação ou teoria que explicasse o sumiço de Betina.
Depois de dois meses Sandoval perdeu a razão e começou a vagar pela cidade com uma foto de Betina tentando encontrar alguma pista, algum rastro. Dormindo na rua, alimentando-se mal, não demorou muito para que as pessoas o tratassem como mendigo.
Um dia, passando por uma vitrine, num momento de lucidez, Sandoval percebera o farrapo humano que havia se tornado. Tirou uma garrafa de cachaça da bolsa e consumiu metade da garrafa em apenas um gole, enquanto caminhava em direção ao viaduto Santa Efigênia olhava para a garrafa e dizia:
- Maldita cachaça, desce rasgando a minha alma, queima o meu coração, faça essa dor desgraçada sumir. Você é a anestesia dos desgraçados, fracos e desafortunados.
- Você tem sido minha única companheira nesta busca maldita!
- Apaga aquele demônio dos meus pensamentos, alivia essa dor maldita!
Ele parou no meio do viaduto e contemplou a beleza arquitetônica do viaduto do chá e o silêncio da cidade na manhã de domingo.
- Enquanto eu viver essa dor não vai parar, não agüento mais meu Deus! E chorou convulsivamente.
Olhou mais uma vez para o céu azul, admirou a beleza do viaduto do chá, colocou o pé na grade de proteção e gritou:
- Hoje é um lindo dia para morrer!!




Continua...

Geléia de morango

Geléia de morango é isso mesmo!
Quando criança adorava ir para a casa da minha avó, talvez pelo fato dela gostar de mimar os netos e ser uma ótima cozinheira. Uma coisa que nunca se apagou da minha memória foi a geléia de morango.
Não era apenas o sabor delicioso, mas o ritual que envolvia a confecção da guloseima.
Levantamos cedo para colher os morangos, quem já esteve numa plantação de morango nunca esquece do cheiro, aquela mistura de terra, morango e folhas. O cheiro do morango assim que você colhe é uma delicia e bem diferente dos aromas produzidos em laboratório.
Minha avó tinha o dom da prosa, enquanto confeccionava a geléia costumava contar causos, dar conselhos, ouvir atentamente e rir. A cozinha ficava com aquele cheiro de morango, era possível sentir as boas vibrações durante ritual.
A tardinha era hora de comer pão caseiro com a geléia de morango, como era bom. Na fase pré-adulta comecei associar tudo de bom que me acontecia com geléia de morango.
E assim descrevo aquela paixão arrebatadora, geléia de morango.
Uma paixão que me deixou sem prumo, mudou meu rumo, superou expectativas, levou-me além dos limites.
Destino traçado, caminhos cruzados, paixão de verdade, dessas que a gente olha para o horizonte imaginário e fica emocionado. Uma força de mil redemoinhos que suga a gente com a voracidade de deuses.
Estar apaixonado daquele jeito era felicidade constante, não existiam Marthices ou fases tepeêmicas que acabassem com o bom humor dos amantes.
Conversas recheadas de risadas sinceras, confissões, olhares e mais risadas. É bom poder falar tudo sem medo de censura, ser aceito como você é, poder mostrar para apenas uma pessoa o mundo de possibilidades de existe em você.
O sexo então, nem se fala! Ou melhor, fala, geme, ri,chora.
Quando se está apaixonado, não se faz amor. Quando apaixonado a pessoa fode, pode parecer um pouco grosseiro, mas só quem está apaixonado fode, essa vontade de querer ir além, de se entregar mais que o limite. Só quem está apaixonado é capaz de ser sincero o suficiente para foder feito bicho solto, sem medo, sem limite. Amor a gente deixa para fazer depois de foder, sentindo um ao outro, olhando nos olhos, entrelaçando os corpos, sentindo os cheiros e sabores numa meditação conjunta onde palavras não precisam ser ditas.
Porém sempre existe um “mas”, uma vírgula, um ponto final, um novo parágrafo, e aquela paixão com sabor de geléia de morango, agora só existe na memória ou numa velha canção.
Hoje durante o trabalho lembrei da geléia de morango e daquela grande paixão



Aproveito o vídeo do amigo Tony "Pituco" Freitas para ilustrar essa humilde crônica.

Mercado

-Ai, desculpa…
Em frações de segundos, que pareciam uma eternidade, lembrou-se dele indo embora, com as mãos no bolso sem olhar para trás. Ela permaneceu sentada no meio-fio, não chorou, mas sentiu uma lágrima, a primeira de um rio. Vinte anos em frações de segundos.
- Não acredito! É você mesmo Isabel?!?! – ele estava pasmado.
Ela demorou a responder, não conseguia raciocinar direito. Vinte anos depois, reencontrar o primeiro amor de sua vida, no mercado, cheia de compras, usando jeans e camiseta, numa TPM monstruosa, só poderia acontecer com ela. Ele continuava com aquela carinha de menino. Jeans, camiseta e tênis, claro que já era um quarentão grisalho, mas a aura do menino permaneceu.
- Marco! Quanto tempo! – foi a única coisa que ela conseguiu responder.
- Que coisa, hein? Já faz tempo, né?
- Vinte anos e dois meses. - foi categórica, era a única coisa que ela sabia com exatidão naquele momento.
Marco fez a menção de abraçá-la, ela instintivamente estendeu a mão. Ele percebeu, mas puxou-a para si, ele queria sentir o cheiro dela, queria sentir aquele corpo, mesmo que por segundos, mesmo que pela última vez.
Ela gostou, na verdade queria sentir aquele abraço, queria saber se a sensação era a mesma de vinte anos atrás e de repente o mundo parou, eles disseram tudo o que queriam na ternura e no silêncio daquele abraço.
-Que tal um café? - perguntou Marco
- Claro! Mas antes me ajude a guardar as compras. – respondeu sem pensar na casa, no marido e nos filhos.
Isabel estava na fase do “balanço”, descobriu que estava acostumada com o pai de seus filhos, aquela ferveção passional acabou logo após o nascimento do primogênito, casada há quase dezenove anos empurrava o casamento com a barriga por quase dezesseis, coisas que foram construídas em conjunto, filhos, conforto, família. O divórcio seria desperdício, então ela fingia que estava tudo bem e sonhava com o dia que pediria a separação.
Começaram a conversa com assuntos banais, mas depois das compras guardadas, o café servido, eles entenderam que era melhor ir direto ao assunto, sem rodeios, fazer como antigamente perguntas e respostas sem medo ou restrições. E aos poucos eles conversavam como há vinte anos.
- Marco, me fala de sobre você, o que você anda fazendo? Casou? Tem filhos?
- Falo sim, acabei de me separar, depois de quinze anos de casado percebi que eu nunca amei a mãe dos meus filhos, percebi que desde que a conheci ela usava uma máscara e que com o tempo essa máscara caiu. Certa vez fomos viajar com as crianças e ela começou a reclamar. Sabe aquele discurso pronto do Gasparetto? Aquele papo de anulação, patatí , patatá.
- Por que você está rindo? Perguntou Marco.
- Eu também já usei este discurso. Respondeu Isabel
- Tudo bem, acho que toda mulher usa, mas ouvir por trezentos quilômetros durante a ida e mais trezentos na volta haja paciência! Vai ser chata assim lá em Piracaia.
Os dois caíram na gargalhada.
-A verdade é que depois daquele dia comecei entender que já não conhecia mais aquela mulher, era outra pessoa, em todos os sentidos. – Isabel não conseguiu sentir uma ponta sequer de compaixão pela mulher de Marco.
-Ela andava infeliz e eu também, então um belo dia após uma discussão boba, mas boba mesmo, eu sugeri o divórcio e ela aceitou numa boa. – concluiu Marco.
-E você, como anda a vida? – perguntou curiosamente
Neste momento o coração de Isabel disparou, ela ficou aflita e estranhamente, após alguns segundos senti-se calma, afinal estava conversando com Marco, o grande amor de sua vida. Ela apenas olhou fixamente nos olhos de Marco e ele pode tirar as conclusões, o silêncio se fez presente por um tempo.
Marco segura a mão de Isabel e com os olhos vermelhos diz o que os dois sabiam desde o início, desde vinte anos atrás.
- Eu te amo como nunca amei ninguém em minha vida, você foi, é, e sempre será meu único amor e eu queria ter dito isto no instante que te vi.
Isabel desmoronou, aquele sentimento tão antigo parecia estourar em seu peito novamente, agora, mais que nunca, ela sabia que Marco era o seu grande e eterno amor.
- Te amo igual, não tem um dia em que eu não pense em você.
Refeitos, eles caminham juntos em direção ao estacionamento e foi ali que eles trocaram o beijo mais apaixonado de suas vidas, era inevitável, incontrolável, irracional, era apenas desejo, paixão. Se fosse possível escolher o momento da morte, os dois escolheriam este.
Trocaram os números de telefone, e-mail, prometeram que jamais se distanciariam novamente e que algum dia iriam morar juntos na praia brava, um antigo sonhos que os dois dividiam.
Depois deste dia, Isabel ficou mais bonita, mais feliz, ela estava apaixonada novamente. Marco encontrou um motivo para voltar a sonhar, as tardes ou manhãs que eles passavam juntos, amando, conversando, sonhando, valiam qualquer risco ou esforço, Marco nunca cobrou nada de Isabel, pois sabia que ela o amava, Isabel não via a hora do caçula terminar a faculdade, ela queria passar o resto de sua vida ao lado de Marco, na praia brava, caminhando ao entardecer com o seu único amor.



Uncuted version

Em uma relação nada é de repente, nenhuma decisão importante é tomada sem ser pensada e repensada. Existem pessoas que insistem em afirmar que tudo acaba sem aviso prévio, “do nada”, repentinamente.
A gota d’água só faz transbordar o copo, se houver distração, a planta morre por falta de cuidados e o resfriado torna-se pneumonia se não for tratado.
O medo da perda e da solidão, a comodidade de ter alguém por perto, para pedir ajuda, colo, sexo. Tem também a preguiça de começar de novo, a insegurança, o medo de ser “derrotado” pelo outro lado, afinal ninguém gosta de perder.
Toda relação adulta tem esse “Quê” infantil, juntos ou não, essa competição velada, a necessidade em estar melhor que o outro.
Alguém já ouviu algum “ex” dizer que está na pior? Digo, publicamente. Ou até pedir desculpas por ter cometido algum erro? Creio que publicamente, ninguém é capaz de dizer isto.
Mas voltando ao assunto, quais são os sintomas de falência de uma relação?
Eu poderia enumerar várias, porém para não causar pânico, citarei apenas os “top hit’s”, não conseguir olhar nos olhos e dizer “eu te amo”, ficar irritado com os comentários do parceiro (a), falta de paixão ( no beijo, no sexo e no olhar), não confiar, não acreditar, ir para New Orleans com o parceiro(a) e reclamar de tudo, o tempo todo, não admirar mais o parceiro (a), não conversar, etc...
Se você reconheceu alguns ou todos os sintomas citados acima em sua relação, existem duas opções:
Se você é teimoso (a), pode aplicar os remédios necessários, conversar e regar essa relação com muita força de vontade e determinação, e, talvez, eu disse talvez você tenha algum resultado.
Mas se você é prático (a), “arranque o que já morreu e plante uma nova semente”.


Louco por Você!!!(samba lacaniano)


Você poderá sentir um gostinho de Língua de trapo, afinal esta música é uma parceira de Carlos Castelo (autor de vários sucessos do Língua de trapo) & Pituco (ex-vocalista do Língua de trapo). Curtam este psico-samba cheio de irreverência e inteligência.




LOUCO POR VOCÊ (Samba Lacaniano)

(Castelo & Pituco)



Eu não sei se a transferência
Não consigo elaborar
Eu só sei que tem demência
No nosso jeito de amar.

Nosso amor é tão maluco
Que até o próprio Lacan
Pagaria as sessões
Pra nos ter em seu divã

E dona Melainie Klein
Vendo amor tão complicado.
Ia dedicar a nós.
Sua tese de mestrado.

É quase certo que o papa
Nosso grande mestre Freud
diagnosticaria
que nós somos esquizóides

Mas sempre haveria Jung
que, com liberalidade,
diria que o nosso caso
é de sincronicidade

Eu sou louco por você
é uma questão de encaixe
eu sou meio abilolado
e você adora o Reich

Sigo andando e delirando
e por mais que ninguém torça
tô amarrado em você
feito camisa de força

Fênix


-Não! Por favor, fique! Vamos tentar mais uma vez, eu te peço, apenas mais uma vez.

Esta foi a última frase que ela disse olhando-o nos olhos, o estrondo da porta fechando ganhou a potência de mil bombas atômicas, as construções finalizadas até o momento ruíam feito castelos de areia em dia de vendaval.
Sobre o vidro da mesa, lágrimas, que começaram timidamente até formarem pequenas poças de tristeza, medo e um quase desespero.
Embora o amor não existisse há muito tempo era difícil para ela aceitar aquela situação, pensou nos outros, pensou no tempo, pensou nos erros, pensou quando não pensou.
As lágrimas rolavam incessantemente, sentiu raiva de si mesma, jurou que nunca mais amaria, pensou no tempo que dedicara àquela pessoa.
Depois de horas chorando, num momento de iluminação percebeu que tinha apenas duas opções, tornar-se uma pessoa rancorosa, fechada, cheia de ódio ou incinerar o passado, fazer o feng shui da alma e renascer.
Certa vez ouviu a avó dizer que as lágrimas eram milagrosas, que limpavam a alma e que era um presente que Deus concedeu somente para as mulheres.
Secou as lágrimas na manga da blusa e decidiu optar pela segunda opção, afinal ela era mulher, abençoada e acreditava nas rezas da avó.



HD - Era só o que faltava


Na minha opinião esta é uma das melhores canções da parceria Carlos Castelo & Pituco, tudo em perfeita harmonia. Ela não foi feita para ser hit adolescente ou estar entre as dez mais da semana. Era só o que faltava, foi feita para quem já percorreu vários caminhos, perdeu-se em labirintos, conhece os extremos. Esta é uma daquelas canções que nos permite viajar no espaço das nossas memórias.
É um orgulho para este que vos tecla ter realizado mais este vídeo, talvez seja uma forma de poder retribuir os bons momentos que esta música me proporcionou, como diriam os criadores dela, piramidal.
A apresentação aconteceu ontem, 21 de março de 2009, em jiyugaoka, bairro de Tóquio - jp, na gig solo, at café desafinado.



era só o que faltava...

faltou uma palavra
que logo escrevo mudo
palavra incompetente
pra falar de silêncio
ficou faltando um termo
a nuvem no poente
pincelada na tela

faltou água pro boi
madeira para as chamas
imolando meu corpo
faltaram urubus
a coroa de flores
saudade e suspiros

faltou um certo adeus
carta de despedida
uma cena ridícula
ou quem sabe um duelo
faltou tiro no escuro
briga de gente bêbada
e ar, falta-me ar

ficou faltando deus
que mentiu ao dizer
que estava aqui, ali e além
faltou menos de um dedo
ficou por uma unha
pra que faltasse a fé

e sobrou esse vento
cochichando teu nome
dentro do meu ouvido...

Mulheres

Todos os dias são delas, amamentam, alimentam, ensinam, amam, uau! Quantos M’s, M de mulher, M de mãe, M de maravilhoso universo feminino.
Elas que nas horas difíceis escondem as lágrimas, mas não tem nenhum pudor nenhum em mostrá-las quando se emocionam.
A mulher é assim, emoção em movimento, as lágrimas vazam quando estão felizes, quando se comovem com o sofrimento alheio, quando estão apaixonadas, quando sofrem por amor, quando a saudade aperta no coração.
São fascinantes esses mil mundos, essas mil faces, estes mil humores que existem em toda mulher, ela pode ser a guerreira decidida pela manhã, pode ser a menina indecisa a tarde, a amante apaixonada a noite, não necessariamente nesta ordem.
Falta muito para o bicho homem chegar a este grau de refinamento espiritual, mas estamos aprendendo. A mulher é o centro do universo, a base de tudo, a lágrima, o sorriso, a luta e principalmente o amor.

Second stage

- Não fala nada,vem comigo!
Ela era assim, surpreendente, não tinha hora marcada, frase datada, ela era renovação contínua. Sandoval já estava acostumado e até gostava, céu e terra, sol e mar, yin e yang, queijo e goiabada. Em todo colégio existem os "casais", aqueles que todos crêem que irão noivar, casar, ter filhos e envelhecer juntos. Ah! A inocência adolescente, se tudo fosse assim, um conto de fadas contínuo.
- Vai lá, vai lá seu Sandô! A dona Bê tá esperando! ha ha ha ha! - Sandoval já estava acostumado com as brincadeiras e sabia que naquele deboche dos amigos havia uma ponta de inveja.
- O que foi Tininha? Tá maluca, você precisa parar com essa mania, chega de repente e não quer saber se eu estou ocupado ou não, que coisa!
Sandoval fazia o tipo bravo, mas no fundo ele adorava. Quando a Betina chegava assim de supetão ele sabia que alguma coisa boa aconteceria, alguma maluquice daquela menina sapeca.
-Ai Sandô! Não fala assim comigo, eu gosto tanto de você!
Aquele biquinho que Betina fazia deixava Sandoval maluco e ela sabia.
- Desculpa meu doce deleite!
Sandoval adorava fazer trocadilhos "poéticos", ingênuos, porém poéticos.
- Sandô, amanhã eu quero ir ao cinema, quero assistir os embalos de sábado à noite, me leva?
Betina sentia um tesão enorme pelo Travolta, uma paixão secreta, coisa de adolescente. Toda menina tem uma paixão secreta e Betina não era diferente, era adulta decidida em certas coisas, adolescente sonhadora em outras, na medida certa.
- Claro que levo, eu também quero assistir! Mas depois do cinema eu quero sorvete na praça e beijo com sabor de baunilha, isso é inegociável.
O olhar de menina sapeca de Betina deu lugar ao olhar de desejo, de mulher. Olhou nos olhos de Sandoval e disse:
- Beijo molhado, corpo suado, beijo gelado, corpo colado, hummm! Ai, ai, ai, olha como você me deixa Sandô!
Betina ficava arrepiada dos pés à cabeça e Sandoval sabia o porquê. Pronto agora eu tenho que sentar, respondeu para Betina com um olhar, os dois riram um riso secreto e sentaram.
No dia seguinte Sandoval foi buscar Betina e rumaram para a sessão das 18:00hrs, dona Jacira mãe de Betina não precisou dizer o horário, Sandoval já sabia qual era, 23:00hrs na porta de casa. Betina estava linda, cabelos longos, soltos, cuidadosamente penteados, camisa feita de um tecido fino em contato com a pele e o cabelo, causava um efeito hipnótico em Sandoval, não bastasse isso ela usava uma mini-saia que deixavam as coxas esculturais à mostra.
Durante o filme Betina não tirou os olhos da tela, o tempo todo admirando o Travolta, o sorriso do Travolta, o estilo do Travolta, o corpo do Travolta.
Que fresco! - pensou Sandoval. É claro que ele saiu do cinema emburrado.
- O que foi? - perguntou Betina (como se ela não soubesse o que era)
- Óia, ocê podi gostá di paixão dessi tar di Travolta, mas ocê namora cumigu, minerim di são juão del rey.
-Pára de falar assim! É claro que namoro contigo, te adoro e quer saber você é muiiito mais gato que o Travolta! - Betina era talentosa e quando queria, era bem convincente.
- Se você está dizendo, eu vou acreditar. - respondeu Sandoval com um sorriso.
Na praça Sandoval comprou dois sorvetes de baunilha, o sabor preferido dos dois. Procuraram um banco vazio perto da fonte, para ouvir o som das águas, olharem as estrelas e principalmente para beijar. Sandoval disse:
-Sabe o que é mais gostoso no sorvete de baunilha?
-O que é?
-Teu beijo! - e tascou um beijo cheio de vontade com gosto de baunilha em Betina.
-Sabia que o mundo gira quando você me beija assim, me deixou arrepiada.
O relógio da torre marcava quase 21:30hrs quando Betina disse:
-Sandô, está tão gostoso, vamos até a igreja - Sandoval e todos os casais de namorados sabiam que na verdade não era a igreja e sim o murão da igreja, escuro e quase ninguém passava por lá à noite.
-Só se for agora!! - Sandoval estava com um sorriso enorme estampado na cara.
No murão da igreja a coisa ficou séria, os beijos quentes e molhados como devem ser, tinham um frescor adolescente, as mãos exploravam os contornos, estavam tão abraçados que pareciam um só corpo. Num certo ponto Betina não aguentou, pegou a mão de Sandoval e a colocou sob a mini-saia e disse:
- Surpresa! - Betina estava usando apenas a mini-saia, já havia planejado de antemão a deliciosa surpresa para Sandoval. E ele, é claro ficou mudo, não havia espaço para palavras diante de tanta volúpia. Para torturar um pouco mais, entre gemidos sussurrou no ouvido de Sandoval:
- Eu disse que era tudo seu e sempre será, eu te quero muito.
Betina abriu o zíper da calça de Sandoval olhando-o nos olhos e o aninhou entre suas coxas, prensando Sandoval entre elas, o movimento sincronizado causou um fibrilar nos corpos, resultando numa explosão de prazer. Sandoval quase desfaleceu sentindo a respiração ofegante de Betina.
- Eu te amo Sandoval , te amo demais!
Aquela noite ficou marcada para sempre na vida de Betina e Sandoval.




Continua...

Dureza mole!

- Ô meu Deus, que pindaíba lascada!
Hoje saí de manhã para procurar um emprego como faço todos os dias, a crise mundial afetou a todos, no começo eu tinha dinheiro para um pão na chapa e um pingado, na hora do almoço eu conseguia almoçar na liga das senhoras católicas, mas os tempos de fartura acabaram.
Café agora, só quando tem na empresa que vou fazer entrevista, acabei desenvolvendo uma técnica para tomar café grátis, entro em qualquer lugar e pergunto pelo responsável pelo RH, enquanto o funcionário vai perguntar, eu ataco a garrafa térmica e tomo uns três cafés, não é tão ruim e dependendo do horário, rola até um pãozinho com manteiga, mas depende do horário e da empresa.
Costumo andar com uma maleta, pois dá uma aparência séria de "business man", na verdade só carrego alguns papéis, jornais gratuitos e minha garrafa térmica, pois é com essa pindaíba toda o negócio é tomar canja, mais barato e não estraga, o segredo é fazer canja com pescoço de galinha (apenas um pescoço por dia) o duro é tirar o pescoço da garrafa térmica, o caldo faz a carne inchar e às vezes o pescoço fica entalado na garrafa.
O aluguel da pensão está atrasado três meses e a portuguesa já avisou que de hoje não passa, ô mulherzinha mão-de-vaca, mas pensando bem ela está certa, é a fonte de renda dela.
Mas hoje deu tudo errado, não bastasse o buraco (cratera) na sola do meu sapato, que nem o jornal consegue remediar, acabei pisando no cocô de cachorro, que entrou no sapato, meu Deus que bodum!! (Vocês repararam que quando a pessoa está nesta situação a palavra mais falada é Deus)
Não bastasse isto, um trombadinha levou minha pasta, nem deu tempo para gritar que era a minha canja que estava lá dentro, o pior que eu estava mancando, pois não queria espalhar mais o cocô do cachorro dentro do sapato, fui até a Praça da Sé, foi o único lugar que me ocorreu, ali tem água, digo fonte. Eu estava tentando lavar o pé e escorreguei, caí dentro da fonte fiquei todo molhado, que vergonha, os estudantes passando e me olhando com cara de dó.
Voltando para casa (nem sei por que estava voltando, a portuguesa já havia me avisado que hoje era o último dia) todo molhado, cheio de bolhas nos pés e aquele bodum de cocô de cachorro, encontrei dez reais na rua. Dez reais!!!!
Como era uma miséria e não dava para fazer nada com aquele dinheiro, decidi investir num calmante natural e olhar a garotada catando recicláveis no lixão. O final de tarde, o calmante natural e a molecada fizeram-me ver como a vida é linda, até na minha situação.



Ricardo Sagioratto - Samba da dureza mole




A trilha sonora deste escrito é uma composição do maestro Ricardo "Azeitona" Sagioratto e faz parte do disco "Brazilian original songs - Azeitona's".

Begin


Aquele sorriso era lindo, avassalador, bastava ela pedir qualquer coisa com aquele sorriso e Sandoval executava imediatamente, foi assim desde o início. Sandoval e Betina conheceram-se no primário, suas mães eram amigas e freqüentavam os mesmos lugares.
Os dois eram filhos únicos e desde pequenos ouviam suas mães fazerem planos para quando crescessem, namoro, noivado, casamento, até o padre dizia que ainda estaria vivo para realizar o casamento.
O namoro foi conseqüência inevitável, mas só aconteceu no colegial. Não que houvesse alguma proibição ou que Betina fosse pudica demais, ela não queria ficar tão grudada a Sandoval, queria ficar com as amigas. O primeiro beijo (beijo mesmo, com língua e tudo) aconteceu quando eles tinham 13 anos, mas foi por curiosidade, foi a primeira vez para os dois. Nunca procuraram ou mostraram interesse em outros parceiros, tudo era tão certo que eles já tinham aceitado o futuro.
Depois do primeiro beijo os olhares mudaram. Betina sempre fora uma menina sapeca e percebeu que Sandoval a olhava de um modo diferente agora, foi exatamente neste ponto que Sandoval tornou-se o vassalo de Betina.
A camisa com um botão aberto, uma cruzada de perna estratégica, um sutil roçar de corpos, porém malicioso.
Um dia Betina disse:
- Pode olhar é tudo seu, mas você só pode me tocar quando eu quiser.
Daí em diante a tortura começou, um dia os dois estavam sozinhos na casa de Betina e ela disse que iria tomar banho, Sandoval com a inocência que só os garotos possuem respondeu:
-Mas tome banho logo, que ainda temos que ir para a aula de inglês.
Ele estava na sala assistindo TV quando ouviu o chamado de Betina:
-Sandô (era por este apelido que Betina chamava Sandoval), esqueci a toalha em cima da cama, pega pra mim?
A ereção foi imediata, Sandoval ficou afoito, excitado, suou frio, mas tentou responder com a maior calma possível.
-Tá bom! Tô indo!
Sobre a cama ele pode ver a toalha e a lingerie.
-Tininha (só Sandoval chamava Betina assim, para todos era Bê), vou pendurar aqui na porta.
Num golpe de misericórdia Betina respondeu:
-Pendura aqui dentro!
Sandoval adentrou o banheiro olhando para o chão e pendurou a toalha, já estava virado de costas quando ouviu:
-Quer me olhar?
-Posso?
-Deve!
Sandoval virou em direção a Betina ainda olhando para o chão, estava vermelho feito pimenta.
-Olha, é tudo teu...
Quando Sandoval olhou, quase teve uma convulsão orgástica, Betina era linda como ele sempre imaginara. Um frescor adolescente, linhas simetricamente perfeitas, cabelos negros até a cintura. Betina perguntou com aquele sorriso malandro:
-Nossa, que volume é este sob a sua calça? (Como se ela estivesse surpresa)
- É vontade de você! - e saiu do banheiro.
Foram para o curso de inglês e não trocaram uma palavra, no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido Betina senta ao lado de Sandoval no recreio, olha-o nos olhos e pergunta:
- Você pensou em mim ontem a noite? - O sorriso sapeca denunciava as entrelinhas da pergunta......




Continua...

Final

O coração dela estava transbordando de tanta saudade e amor, este sentimento veio feito dor de dente, rápido e agudo. Ela arrumou as malas com a rapidez de um clique, despediu-se da família e caiu na estrada. Betina estava morta de saudades do Sandoval precisava dizer para ele quanto o amava e o quão ele era importante na vida dela.
Ela saiu de São João del-Rei de manhãzinha antes das dez, queria chegar cedo para preparar um jantar especial com direito a uma noite de muito amor apaixonado. Ligou o toca-fitas e colocou a seleção que o Sandoval fez para ela, tinha até uma pequena dedicatória: “para o maior amor da minha vida”. A lembrança de todos os bons momentos que eles viveram ao som daquela seleção, fez com que Betina derramasse algumas lágrimas emocionadas. Este é o homem da minha vida, pensou mais uma vez.
Lembrou que ele adorava a goiabada e o requeijão caseiro que era vendido na estrada, parou na loja encontrou o requeijão, mas não tinha goiabada.
- Cadê a goiabada? – perguntou aflita.
- Ih! Num tem não sinhora, eu tô terminando de cunzinhá.
-Demora muito?
-Si a sinhora isperá umas meia hora achu qui sai.
-Tudo bem, eu espero.
Meia hora depois ela estava na estrada novamente e corria, corria para encontrar o seu amor.
O relógio marcava quase 16h30min quando ela chegou, tirou as malas do carro e foi correndo preparar o jantar, depois de tudo pronto ela foi tomar aquele banho especial, lavou os cabelos cuidadosamente, depilou-se, usou a fragrância preferida de Sandoval e colocou o vestido “preto matador”, como Sandoval costumava dizer. Ela continuava linda, mesmo aos quarenta anos tinha um corpo lindo e um sorriso avassalador.
Foi descendo as escadas que ela lembrou da goiabada e do requeijão que esquecera no carro, foi buscar e na volta percebeu que havia um envelope sobre o toca-discos, colocou o requeijão e a goiabada sobre a mesa da cozinha e voltou para ver de que se tratava, afinal de contas estava escrito: “Para Betina”.
Ao abrir o envelope houve um misto de confusão e medo, um recado simples, mas que fez seu corpo tremer todo, estava escrito:
“Tudo que eu tenho para dizer-te está na quarta faixa do lado b”
Ela olhou o disco e reconheceu era “sinal fechado” do Chico Buarque, afinal foi um presente dela, colocou a quarta faixa e sentou na cozinha.
O mundo desmoronava, Betina chorava e ria ao mesmo tempo, que ironia do destino, eu mereço! - pensou em meio ao choro.
A goiabada e o requeijão continuavam sobre a mesa e o mundo de Betina desmoronava.




Continua...

Xamã

- Cinqüenta doletas?!?!?! Pôw TUNHÃO, tá maluco? É muito dinheiro para “viajar”.
- Porra bródinho, não se trata de viajar e sim de busca espiritual, é claro que existe uma ajudinha extra, mas segundo as garotas, vale cada centavo!!
- Não sei, tô achando este chá muito caro...
- A grana não é só para o chá, paga também o tempo que a Xamã vai te acompanhar, sacou? É uma consulta espiritual, na qual você vai descobrir muita coisa.
- Xamã?! Que é isso? Ô TUNHÃO, para com isso rapá!
- Xamã é a pessoa que vai conduzir nesta viagem, vai te mostrar o caminho. É o seguinte, com exceção do primo da Lua, a Lua e o Primo Preto, todos vão participar, se tu quiser vir, venha. Se não quiser, sem problemas.
-A Guta vai?
- É claro, ela não te convidou porque... te acha muito novo para este tipo de experiência, hahahaha!
O sangue ferveu na hora, moleque é o cacete! Foi a única coisa que me veio em mente.
-Tô dentro, toma a grana que eu estava economizando para comprar um jogo de rodinhas gringa. Só espero que essa trip valha cada centavo.
-Relaxa, tu vai curtir o lance. Sábado a noite na casa delas e vê se não come demais.
-Por que?
-Não sei, mas elas disseram para não ir de barriga cheia, quando acabar tem lanche.
No sábado encontrei com o TUNHÃO, o Primo Cabelo e o Nêgo-boy no "ponto certo" e senti um clima místico no ar e apesar de ser a primeira vez, todos estavam tranqüilos, até demais. Dentro do Fusca (do TUNHÃO) a conversa era trivial, tive a sensação que todos estavam evitando falar sobre o que estava por acontecer, tentei entrar no assunto várias vezes, sem sucesso e assim foi o caminho todo.
Quem nos recebeu foi a Guta, linda como de costume, ela me deu um abraço gostoso e um beijo no canto da boca, estava feliz com a minha presença, só este momento já valeu as cinqüenta doletas.
Fui apresentado a Xamã, uma boliviana comum e sorridente, que vestia uma espécie de uniforme de farmacêutico e estava acompanhada de uma assistente. A sala estava vazia e sentamos todos no chão (sem tapete), segundo a Xamã era melhor assim.
Conversamos, ou melhor, tentamos conversar com a Xamã que não falava bulufas em português, para nossa sorte a Claudia e a Guta falavam bem e traduziam tudo, o portunhol realmente não rolava com a boliviana.
Sentados ao redor da Xamã ouvíamos atentamente as explicações e algumas orações, um pouco antes de passarmos para o segundo estágio (tomar o chá) ela começou a repetir uma frase (segundo a Claudia a frase era, ele vai revelar, ele vai encaminhar, para ele entrego minha alma) senti um calafrio quando soube o que ela estava falando.
De repente ela ficou de frente para mim e disse:
-Hoje um novo mundo vai se abrir para você preste atenção em tudo.
Senti os pelos do meu corpo eriçarem.
A assistente trouxe o chá e a Xamã começou a servir enquanto rezava algo incompreensível (a esta altura ninguém traduzia mais nada), o gosto era muito, mas muiiito ruim, amargo, fiz uma força fenomenal para tomar, pensei em tomar em apenas um gole, mas estava quente demais.
Depois que todos tomaram suas doses a Xamã saiu do transe e começou a conversar, mais relaxados começamos a conversar entre nós, lembro-me de dizer ao TUNHÃO que o chá não fez efeito nenhum, ele riu e respondeu:
-É assim mesmo, demora um pouco para fazer efeito. Fica aí que eu vou tentar pegar mais peixes lá embaixo.
Peixes?!?! Lá embaixo?!?!
Foi então que percebi que estava na beira de um rio, largo e com a correnteza forte, ao meu lado uma cesta com nove peixes.
-TUNHÃO!!! Cadê você rapá???
Levantei e sai correndo pela beira do rio, percebi que estava dentro da mata, às vezes alguns flashes de pessoas vomitando, não conseguia mais identificar ninguém na sala, pois todos estavam sem rosto, com exceção da Xamã que dizia:
- Mira, mira, mira todo!!!
Na mata, fui atacado por nove macacos, não sei de onde eles apareceram, assim como também não sei como aquele porrete apareceu na minha mão, de repente ouço o TUNHÃO rindo.
-Voa, saia daí voando!!
E lá estava eu voando, do meu lado apareceu a Xamã, que disse para eu prestar atenção em tudo e o pior é que eu estava entendendo tudo o que ela dizia.
Sentado em um banco eu observava nove crianças brincando duas delas me chamaram de pai e apontaram a mãe, não pude ver o rosto dela, nem ouvi-la, pois havia um vidro que nos separava.
De repente estava frente a frente com a Guta e comecei a chorar, chorava compulsivamente, não sabia se era de alegria ou tristeza. Ela me beijou e foi como se fossemos um só, um beijo eterno com sabor de paixão.
Abri os olhos e estava na cozinha da minha casa, sobre a mesa uma carta aberta com a foto de uma tia que há nove anos não dava noticias, atrás da foto estava escrito: para o meu querido sobrinho.
Fui o último a acordar, então entendi o porquê da sala vazia, a assistente da Xamã ainda limpava as poças de vômito. Todos vomitaram muito, segundo a assistente.
Ao nos despedir, a Xamã perguntou se eu tinha prestado atenção em tudo, eu disse que sim. Ela apenas respondeu:
- Agora preste atenção no número nove.
Não quis beijar a Guta, pois a sensação de estar vomitado, embora não estivesse, inibiu qualquer tentativa de aproximação.
Na volta estávamos todos em silêncio, tentando digerir as informações recebidas durante o ritual.
Quando o carro parou na porta de casa, me despedi do TUNHÃO com um “falou!”, quando ele estava saindo colocou a cabeça para fora do carro e gritou:
- Eu quero a metade daqueles nove peixes, porra!!!!
A surpresa só não foi a maior porque quando entrei em casa, lá estava a foto e a carta da minha tia.
Até hoje não consegui uma explicação lógica para o acontecido, depois desta vez, ainda encontrei a Xamã duas vezes, mas isto, é outra história.



Continua...

Grey hair


Hoje olhando no espelho percebi que estou totalmente grisalho, um senhor, um tiozinho, quarentão, etc... Seria engraçado se não fosse verdade, é, porque na minha cabeça eu ainda sou o mesmo moleque(com algumas responsabilidades) de vinte anos atrás. Mas nesta rápida e profunda olhada no espelho lembrei da primeira vez que vi um cabelo branco no meu pai e disse: - Paiê! O senhor(naquela época ninguém chamava o pai de você) está ficando velho, já tem até cabelo branco.

Ele respondia:
-Você é a causa deste cabelo branco, arranca ele! E caia na gargalhada.

Mas hoje olhando no espelho (notem que é a terceira vez que escrevo a mesma coisa) neste flash rápido e profundo, também lembrei de várias situações, trágicas, cômicas, desconfortáveis e até irônicas. Lembrei das pessoas que conheci (cada figura...rs), das paixões que vivi, das vitórias, das derrotas. As lágrimas que derramei, de alegria, de tristeza, de emoção. Para cada fio de cabelo branco, uma história, uma piada, uma pessoa, uma situação, sabe que eu até senti uma pontinha de orgulho. O tempo muda muita coisa, mas jamais muda o coração de um sonhador, este sim é imutável e eternamente jovem, sempre buscando a realização. Para cada memória, um fio de cabelo branco.

Catarse



Respiro, transpiro, renovo. Existe um "quê" de ilusão, fragmentos de ti, cravados na minha emoção.
Sabor de pele, de sal. Sabor de sabor.
Voragem predileta, avassaladora que desperta, o bem , o mal, yin, yang, catarse pessoal.


W.Doug

Bolinho de chuva


Bolinho de chuva tem um sabor de infância, um tempo bom cheio de risadas e peraltices, um tempo em que toda a inocência do mundo cabia no meu coração. Café com leite (naquele tempo as crianças bebiam café) e bolinho de chuva, algumas vezes com aquele gostinho de canela e açúcar.
Voltar da escola sob a chuva, pulando nas poças só pra ver a água espirrar longe, tocar a campainha (sempre da mesma pessoa) e sair correndo feito louco, chegar em casa e dizer para a mãe que a chuva estava forte demais e levar uma bronca (algumas vezes uma chinelada, ai ai ai !) . Naquela época os monstros e fantasmas eram diferentes e embora eu morresse de medo eles eram inofensivos, eu tinha uma mania muito feia nesta época, quando estava sozinho costumava repetir os palavrões que ouvia os garotos mais velhos falarem, era capaz de ficar longos minutos repetindo o mesmo palavrão em voz baixa. PQP era o que eu mais gostava, repetia em varias entonações, tempos e até usando a melodia de “O barbeiro de Sevilha”.
Nas férias era muito bom, sempre íamos para a fazenda de um tio, banho de rio, ofurô de latão, quando chovia era uma festa, conseguíamos ver a chuva chegando e invadindo os campos, como toda a criança tentávamos correr da chuva (eu disse que era inocente...rs) volta e meia tinha bolinho de chuva no café da tarde, ficávamos sentados na varanda tomando café com leite e comendo bolinhos de chuva, assistindo o espetáculo que a mãe Terra nos proporcionava, cheiro de grama molhada, cheiro de chuva, cheiro de bolinho de chuva, cheiro de infância.
O bolinho de chuva representa os melhores dias da minha infância, talvez por este motivo hoje quando como bolinho de chuva, ao invés de café com leite tome chá verde, formando assim a minha metáfora pessoal.

Tapa na cara!!!



Durante a semana TUNHÃO estava inquieto, ele ficava assim toda vez que precisava resolver algum problema, não falava nada e estava monossilábico nas respostas, era um sábado de céu estrelado e temperatura agradável, estávamos no “ponto certo” quando o Primo da Lua estacionou a Kombi e desceu com o TUNHÃO.
- Tô indo prum rolê diferente com o Primo, vamos?
Eu percebi que havia um código no convite e na troca de olhares, apesar de ter sido aceito no grupo eu ainda era o mascote e não tinha muita convivência com eles, às vezes era preciso me explicar o que estava acontecendo.
-Agora? – perguntou o Primo Cabelo
TUNHÃO apenas olhou para ele e respondeu:
- Já! É agora ou agora!
Subimos todos na komboza do Primo da Lua, Nêgo-boy e eu no fundo, Primo Preto e Primo Cabelo no meio, TUNHÃO e o Primo da Lua na frente, numa certa altura do caminho (acho que estávamos passando pelo Center norte) o Primo Cabelo perguntou:
- Para onde estamos indo?
Então TUNHÃO explicou o que estava acontecendo:
- É o seguinte Primo, estamos indo para madaloca, “trocar uma idéia” com o ex-namorado da Guta, ele pisou na bola e ela ficou muito mal e tu sabes que a Lua, a Claudia e ela são quase irmãs, essa semana eu fui a casa delas (a Claudia e a Guta moravam juntas) e a Guta estava muito mal.
Então eu pude entender o receio do Primo Cabelo, ele era um cara muito legal, muito inteligente, mas era todo certinho, cheio de precauções, para dizer a verdade ele era meio cagalhão.
-Então é treta? – perguntou o Primo Preto
- Não tem treta nenhuma eu vou apenas trocar uma idéia com o cara e vocês não precisam se envolver, eu só não sei se ele está só e no caso alguém se intrometer vocês seguram a onda, beleza?
-Beleza! Só trocar uma idéia então?
-Só, vocês nem precisam descer do carro.
Paramos em frente ao boteco, acho que era na Rua Purpurina, a Vila Madalena hoje é um bairro bem diferente da década de oitenta e quando eu disse boteco é porque era um boteco mesmo a única diferença é que o boteco era lotado de pseudo-intelectuais e bichos-grilo da redondeza.
TUNHÃO desceu do carro e eu ainda pude vê-lo indo na direção daquela figura, um cara cabeludo, barbudo, com aquelas sandálias tipo franciscano e uma camiseta vermelha do PT, fiquei me perguntando (na fração de segundos, antes do TUNHÃO abordar o meliante) como aquela Deusa platinada poderia ficar com um tipo daqueles?
TUNHÃO não trocou idéia nenhuma e o riso foi geral quando ele deu um tapa, é tapa mesmo, não foi porrada, não foi chute e nem gravata, foi um tapa, aliás, foi “o tapa”, acertou a cara em cheio e aquela figura rodopiou até o meio da calçada, quando alguns conhecidos do meliante se aproximaram para separar, nós descemos do carro e o Nêgo-boy gritou:
-Ninguém entra isso é assunto dos dois. – todos congelaram.
Aquele tipo levantou-se rapidamente e foi na direção do TUNHÃO que, esquivou-se agilmente e emendou outro tapa na cara, aquele ser desprezível era muito branco e estava com o rosto muito vermelho, achei muito engraçado nunca tinha visto briga assim, o TUNHÃO estava muito calmo e sorria enquanto brigava...op’s, eu disse brigava? Enquanto esbofeteava o meliante.
Terceiro, quarto, quinto tapa, toda vez que ele levantava tomava uma bifa na fuça, a situação já beirava o patético e TUNHÃO não parava, o sangue escorria pelas narinas daquele ser asqueroso quando ele desistiu e permaneceu de joelhos e de repente começou a chorar e pedir desculpas, ele bem que tentou levantar mais uma vez para desculpar-se, mas o TUNHÃO não deu chance desferindo uma bifa daquelas e disse:
-Fica aí canalha! Lugar de mau-caráter é no chão, se eu souber que você olhou pra Guta de novo eu volto, entendeu?
Entre soluços ele respondeu:
-Sim senhor.
Entramos no carro e na saída pude ver aquele paspalhão ajoelhado na calçada e chorando feito criança. TUNHÃO disse apenas;
-O melhor remédio para gente deste tipo é tapa na cara, não tem nada mais dolorido que a dor da humilhação, Cabelo aperta esse que eu tô estressado...hahaha!
E assim voltamos para casa, no meio da névoa londrina, rindo muito e com uma história para contar aos netos, exceto a parte da névoa...rs




Continua...

Luisa me dá tua mão (final)



No exato momento que Claudia avistou a Guta o quebra-quebra começou, conseguimos sair quase ilesos, alguns empurrões e uma bifa na fuça, o premiado com a bifa na fuça só poderia ser eu, ai meu nariz! A Guta parecia consternada, os olhos vermelhos de choro recente, fomos apresentados e acho que devido à situação ela não me deu muita atenção, mas eu sabia, sempre soube que era ela, apenas não a conhecia.
Durante dias fiquei com a imagem daquela mulher na minha cabeça, tinha que ser ela, dizem que quando encontramos nossa alma gêmea os anjos sussurram em nossos ouvidos, mas é preciso ficar atento e não esquecer a linguagem deles.
Conversei com o TUNHÃO, abri o meu coração e expus todo o meu sentimento, ele percebeu que eu não estava com brincadeira, que não era apenas um capricho e apenas me perguntou se eu tinha certeza, a resposta foi automática e explicativa.
-Eu sei que estou apostando alto e que as possibilidades são mínimas, mas eu quero me atirar naquele mar, quero sentir a força dele, quero ser tragado por aquelas águas, quero conhecer a profundezas, os perigos e as belezas que ele esconde atrás daquele azul.
TUNHÃO respondeu:
-Então você sabe o que dever ser feito, faça rápido antes que a situação fique pior!
Sim, eu sabia e hoje posso confessar o meu medo, não era um medo comum, era medo de machucar alguém que eu gostava muito, alguém que era importante na minha vida, alguém que dividiu risadas, histórias e aprendizado comigo.
-Ih, que cara é essa beibí?
Parece que ela estava adivinhando, eu realmente estava estranho (mais que de costume) e nervoso.
-Nada não, bobeira deve ser TPM masculina hahaha – Acho que não colou.
-Diz logo, o que está te aborrecendo, é comigo?
Pronto é agora ou nunca!
-Tá bom, eu vou te falar, mas você tem que prometer escutar até o fim.
Eu mal terminei a frase e a feição daquele semblante mudou totalmente, terminar o namoro com uma garota comum era uma novela mexicana, imaginem com a Luisa.
Expliquei a situação toda e surpreendentemente ela não sapateou, não gritou, não derramou uma lágrima, apenas disse uma coisa que até hoje não esqueço.
- Olha beibí, eu vou entender a tua decisão como um intervalo entre o primeiro e o segundo ato, nós ensaiamos muito e seria um desperdício parar agora, esta história ainda está no começo e tem que ser contigo.
Meu coração disparou, a boca secou, não estava conseguindo olhar nos olhos dela, eu estava decidido e não queria magoá-la, mas ela estava determinada e disse:
-Vai, sinta-se livre, segue o teu caminho como achar melhor, mas eu sei que você vai voltar.
Fui embora com um simples tchau e não olhei para trás, eu não estava chorando, mas senti as lágrimas no meu rosto, eu estava triste, estava decepcionado comigo mesmo, não existe sensação pior que esta, é bem melhor ser ferido que ferir, alguns lidam melhor com este tipo de dor, é mais fácil esconder-se e lamber as próprias feridas até que elas fiquem curadas do que sair ileso e ferir alguém.
A vida continua e eu estava concentrado naquela mulher, naquele destino incerto, eu apenas escutei os anjos e deixei que eles guiassem-me por aquele caminho desconhecido, iluminado, porém desconhecido.
Pedi ao TUNHÃO que não interferisse em nada, a Claudia e a Guta moravam juntas e isto poderia atrapalhar, eu 17, ela 25, um garoto apaixonado por uma mulher. O legal deste tipo de paixão é que você não vê nada, tudo é possível, em cada olhar, em cada sorriso existe uma nova possibilidade, ficamos tão cegos que acabamos por enxergar possibilidades onde elas não existem, e depois com calma entendemos que existe aquela pitada forte de insanidade em toda paixão.
Um mês e meio depois, num dia em que chovia cântaros, pude ouvir alguém chamando o meu nome do portão de casa e quando fui ver quem era, aliás, eu já sabia quem era, aquela voz era inconfundível, deparei-me com uma cena que nunca mais saiu da minha mente.
A chuva, o vento, as lágrimas, meu Deus eu sou um monstro!
Abracei Luisa e ela chorava, chorava agudo, doído, um choro interminável cheio de soluços, palavras desconexas, fiquei tão envergonhado que não consegui olhar nos olhos dela.
Minha mãe imediatamente trouxe uma toalha e um chá quente, não disse nada, apenas lançou-me um olhar cheio de decepção, do choro veio um silêncio, um silêncio angustiante, vazio.
Luisa colocou as mãos no meu rosto e olhou-me nos olhos, um olhar dilacerante, daqueles que chega à alma, que causa arrepios e disse:
-Quero te dizer hoje, o que eu nunca te disse, já entendi o tudo e quero apenas dizer o quanto te amo, quero agradecer todos os bons momentos que tive contigo, os pôr-de-sóis que assisti contigo, a risadas que demos juntos, as vezes que choramos juntos, tudo de bom que tivemos juntos, juntos...juntos...Eu vou te amar para sempre, você vai estar em mim por todos os meus dias, eu só queria te dizer isto, dizer que te amo.
O beijo foi inevitável e inesquecível, o último beijo, o último suspiro daquela história, depois deste dia encontrei Luisa apenas em pensamentos, num sorriso sapeca, em algum velho filme que assistimos juntos, num dia de chuva.
Outro dia, assistindo uma entrevista no programa do gordo eu me emocionei com aquele olhar lançado por aquela mulher de quarenta anos, o gordo perguntou se ela lembrava do primeiro amor, e ela respondeu que lembrava do primeiro e único amor todos os dias, mas o motivo da emoção, foi o olhar da menina sapeca que voltou por uma fração de segundos, aquele olhar nunca mentiu.


Continua...

Luisa me dá tua mão



Luisa, menina sapeca, arteira, charmosa, daquelas que a gente tem vontade de morder, bela, de morenice brejeira, cabelos longos e negros.
Luisa foi modelo infantil, uma criança linda e com a mesma cara de sapeca, na adolescência afastou-se das lentes publicitárias para fazer cursos de teatro, ela sonhava em ser atriz e apesar de ser bonita não tinha a mínima tendência para ser a mocinha da novela das oito, ela gostava de ser engraçada, de fazer rir, ela queria ser comediante.
Foi durante os ensaios de uma peça de teatro no colégio que eu comecei a conversar com a Luisa, antes eu apenas admirava aquela beleza, não dava para não olhar, aquelas mini-saias, o cabelo longo sempre preso, aquele par de pernas esculturais, uauu fenomenal!
Não demorou muito para começarmos a namorar, até hoje acho que ela começou a namorar comigo, pelo fato de eu ser um cara estranho, nunca fui muito inteligente, descolado e muito menos bonito, mas era estranho e vocês sabem que tem gosto para tudo neste mundo.
A Luisa gostava de fazer improvisações e performances em qualquer lugar, a qualquer hora, no começo eu ficava um pouco envergonhado, nunca sabia quando era verdade, depois acabei acostumando e até aprendi algumas técnicas, mesmo achando que era uma maldade o que ela fazia com as pessoas, ela dizia apenas:
- Beibí as pessoas precisam de um pouco de drama alheio em seus cotidianos.
Ela era muito boa no que fazia, certo dia estávamos no Jack in the box (uma espécie de Mc Donald’s jurássico) depois de uma sessão de cinema, quando duas mulheres sentaram perto de nós e de repente a Luisa começou a dizer que eu não podia deixar ela, não naquele momento. Bastou ela falar isto para que as duas direcionassem os olhares para nossa mesa, afinal de contas as mulheres são solidárias entre elas, principalmente nestas horas, foi a primeira vez que eu entrei no jogo da Luisa, dizendo que não seria possível ficarmos juntos, que não queria aquele filho, bla, bla, bla.
Luisa tinha um choro convincente, meio abafado, um olhar dramático, não demorou muito para que as duas mulheres ficassem com os olhos cheios de lágrimas, mas como era um laboratório e ela adorava finais felizes, conseguia virar o jogo e me manipular (é lógico que eu já conhecia o ritmo dela) e eu aceitava e assumia a “gravidez” e tudo terminava com um beijo terno e apaixonado, a resposta do “público” era imediata sorrisos simpáticos e olhos vermelhos, emocionados. Bad girl!
Certa vez ela apareceu com duas coleiras e uma corrente e disse:
- Hoje nos vamos sair assim, encoleirados um no outro, hihihi
-Nãoooo, cê tá maluca?
-Então tá, quando chegarmos à porta do Madame Satã colocamos.
-Tá bom, hahaha
Eu sabia que seria no mínimo divertido e embarcava na dela, vocês tem que entender que um casal encoleirado era pouco perto do que rolava no Madame Satã na década de oitenta.
Os pais da Luisa tinham uma chácara e quase todos os finais de semana iam para lá, e como a Luisa era uma mocinha e tinha curso de teatro no sábado ficava em casa, só. A mãe tinha um horário certo para ligar passado este horário estava liberado. Não demorou muito para começarmos a transar, fazer amor é só com quem amamos e segundo a Luisa ela não me amava, ainda, eu era uma amizade colorida, uma transa, um caso, sei lá o que mais, eu não pensava no assunto, era bom estar com ela e isso me bastava.
O sexo era bom, estávamos nos descobrindo, pele, cheiro, sabor, vontades, eu nunca me preocupei em ter um ótimo desempenho, em parecer experiente ou sexy, em ser a melhor transa da vida dela.
Era sempre uma surpresa, um dia ela apareceu com um livro do Kama Sutra, e queria experimentar todas aquelas posições, até hoje fico pensando se aquele livro não é algum manual de sexo para contorcionistas, que alguém decidiu usar com as pessoas normais.
Danças exóticas, strip-teases, sexo selvagem, carinhoso, dramático, mudo, aeróbico, com chantily, com chocolate, foi uma fase muito louca e gostosa, de descobertas e surpresas.
O único problema eram os pais da Luisa, eles não gostavam de mim, aceitavam, mas não gostavam, achavam que era perda de tempo namorar um cara estranho, pobretão e sem talento nenhum, Luisa nascera para ser uma estrela.
Algumas vezes os pais dela a proibiam de sair, como não éramos namorados eu não tinha obrigação de ficar em casa mofando, saia com os amigos para a noite paulistana, foi numa dessas noites, junto com o TUNHÃO e a Claudia, no meio de uma quebra-quebra histórico no Napalm, durante o show dos Garotos Podres, que os meus olhos cruzaram o meu destino azul, hipnose automática, não consigo explicar até o presente dia como fui avassalado por aquele vendaval nórdico.
-Guta! Guta! Aqui!
Meu Deus não acredito, é conhecida da Claudia.....


Continua...

Fotografia


Antes de contar esta história tenho que falar sobre uma figura de grande importância nestas loucas aventuras oitentistas.

Nêgo-boy era uma figura e tanto, malandro, mas não do tipo “mano”, era descolado, bom de papo, daqueles que hipnotizam as pessoas, gostava de dançar samba-rock, freqüentava a sociedade Rosas de Ouro, foi batizado em igreja católica, gostava do som do atabaque e era devoto do Zé Pelintra.
Era o tipo de pessoa que conversava sobre vários assuntos, qualquer um mesmo, futebol, política, literatura, religião, música, culinária, o cara era muito culto mesmo e eu só fui entender o porquê de tanta cultura após conhecer os pais dele.
A mãe era pedagoga e fazia parte de uma destas organizações de conscientização dos direitos dos negros, ela tinha uma biblioteca enorme, a maioria dos livros era em inglês, no Brasil eram raros os livros que abordavam os mesmos assuntos, nossas conversas eram recheadas de Kunta Kinte, Ku Klux Klan, Black Panthers, etc… eu adorava ouvir as explicações e as histórias que aquela ex-dançarina proporcionava-me.
Ah, é verdade, ela era dançarina em um show de mulatas, segundo ela, o pai do Nêgo-boy demorou um ano para tomar coragem e conversar com ela, mas em compensação, após um mês de namoro eles casaram.
O pai do Nêgo-boy é um capitulo a parte, engenheiro que gostava de ser professor Pardal, e eu era o assistente oficial, ele sempre me dizia que se algum dia conseguisse inventar algo que fizesse sucesso, citaria meu nome como co-inventor. Mas eu estava mesmo interessado em aprender algo com ele e dar algumas risadas, ele que me desculpe se algum dia ler estas linhas, mas a cara que ele fazia quando algo não dava certo era impagável.
O apelido Nêgo-boy foi dado pelo Primo Preto (um dos freak brother’s) depois que o Nêgo-boy começou a fazer uns freelas como modelo, descolado como era começou a freqüentar altas festas e fazer bons contatos, era muito engraçado quando ele conseguia convites para nós, aquelas festas no Morumba, Jardins, hotéis e mansões, e nós chegando de Kombi, estacionando entre os roll’s, jaguares e Mercedes, totalmente bizarro.
O TUNHÃO andava desesperado para levantar uma grana estava até fazendo segurança em uma boate de luxo, mas a grana era pouca , quando ele colocava uma coisa na cabeça, não havia quem tirasse.
Certo dia estávamos no “ponto certo” tocando e falando sobre um tal de Baghwan e seus ensinamentos, quando o TUNHÃO chegou e começou a lamentar, dizendo que com aquela merreca que ele estava ganhando iria demorar um ano para juntar a grana que ele queria e desabafou:
-Tô me matando por merreca, PORRA!
Foi a deixa que o Nêgo-boy estava esperando, eu tenho impressão que ele estava esperando o momento certo para falar.
-Rapá, você não vai acreditar, mas pintou um freela legal e paga bem!
-Não acredito mesmo, se for esse negócio de desfile, esquece!
-Eu querendo te dar uma força e você fala assim comigo, vê direito TUNHÃO! Sou teu bródi, mas não abusa!
-Foi mal…mas que freela é esse?
-Fotos para uma revista gringa, ensaio sensual, mas é sozinho, o fotografo está precisando de alguém fotogênico, topa?
-Foto? Ensaio sensual? Tá maluco?
-500 doletas (anos 80)
-ÃH?!?!?!Quando?
-Pode ser amanhã mesmo.
-Tô dentro!
Infelizmente não pude ir com eles, queria ter assistido a cena, segundo o Nêgo-boy o TUNHÃO só ficou uma fera quando disseram para ele raspar os pelos do peito e do abdômen.
Dias mais tarde o TUNHÃO nos mostrou o anel que ele comprou com a grana, realmente muito bonito, mas a pergunta foi inevitável.
-Porque tanto sacrifício?
-Vocês não entendem PORRA nenhuma de mulher mesmo! Não é o valor monetário, tampouco a jóia, é a prova de sacrifício que eu quero dar de presente.
Uaaauuu! Silêncio geral, esse TUNHÃO sempre surpreendendo.
A única coisa que o malandro do Nêgo-boy não contou para o TUNHÃO, mas nos confidenciou e nos fez prometer silêncio eterno, era que as fotos iriam ilustrar uma revista gay européia.




Continua....