segunda-feira, 9 de agosto de 2010

We love mães

- Acorda moleque, já são quase oito horas!
- Pô manhê, mais um pouco!
- Levanta senão jogo água. Quem mandou ficar até tarde assistindo filme?
- Tá, tá, tá! Sai da cama, sonolento enfie-me no jeans desbotado, vesti a camiseta e calcei o primeiro tênis que encontrei.
- Por que tanta pressa? - retruquei com a boca cheia de pasta de dente.
- Você sabe que gosto de ir cedo e voltar cedo, escova estes dentes direito!
- Vamos!
- O senhor já tomou o seu café?
- A gente come um treco por aí!
- Pra quê gastar dinheiro a toa? Senta e toma seu café!
- Tá, tá, tá!
- Come o pão! Você já bem grandinho e sabe que não se deve sair de casa com o estômago vazio!
- Estômago vazio!?!? hahahaha olha o tamanho da minha pança!
- Come presunto
- Não quero!
- Come queijo
- Não quero!
- Passa manteiga pelo menos
- Tá louca, quer me matar de colesterol!
- Você deveria pensar no colesterol quando come uma pizza inteira, hahahaha! - Pela risada vocês devem ter percebido que ela é gorda. Aliás, mãe gorda é um barato, tem aquela risada gostosa, cozinha bem, é brava e está sempre começando um novo regime.
- Não corre! Eu já disse que não gosto que corra. - disse ela agarrada no grip da porta.
- Mãe!!!! Estou a 60 se eu andar mais devagar o caminhão passa em cima da gente!
- Olha prá frente! Ai meus Deus quase bate! Prestenção!
- Mãe tem espaço para um carro ai na frente!
- bla bla bla...ai você é pior que seu pai no volante!
Ela é a única pessoa que tem carteira de habilitação há mais de 45 anos e não sabe dirigir.
- Pára aqui, enquanto você estaciona o carro eu vou comprando algumas coisas.
- Mãe aqui não pode! Não tá vendo?
- Um pouquinho só não tem problema...hahahahahaha! - e tome risada de gorda
- Onde a senhora vai ficar?
- Ah você me encontra! hahahahaha - o motorista do busão espanca a buzina nervosamente.
Quarenta e cinco minutos depois no meio da loucura que é a rua 25 de março encontro minha mãe conversando com outra senhora, nem a distância e tampouco a miopia permitiram-me reconhecer aquela senhora.
Puta que la mierda! Era a dona Noca! Dona Noca era o meu terror quando pequeno adorava beliscar, apertar, morder minhas bochechas, confesso que demorei a superar o trauma causado por aquela senhora.
- Ô meu filho quanto tempo! - e me tascou um beijo na bochecha, desses que fazem smackkk.
-Tá bonito, tá grisalho, um brotão hein? - agradeci meio ruborizado, incrível a capacidade dessas senhoras em me fazer sentir com oito anos de idade novamente.
- Pois é Noca, continua o mesmo moleque. - desabafou minha mãe - Você acredita que ele ainda anda de skate, nessa idade?
- É ele sempre foi maluquinho. - nessa altura eu queria ser um avestruz - Deu muito trabalho, mas agora é casado, tem família, eu sei que ele é um menino responsável. -senti uma pitada de sarcasmo no comentário, mas preferi ficar calado.
Meia hora depois elas se despedem e, acreditem ou não a dona Noca beliscou a minha bochecha.
- Coisa fofa da Noca!
Durante as compras a espera parecia infinita e eu com as sacolas no meio daquele empurra-empurra.
- Tio me dá um trocado? - eu já estava com a mão no bolso quando minha mãe dispara, de dentro da loja.
- Toma juízo menino, vá procurar um trabalho, um rapaz novo, forte, não tem vergonha de ficar esmolando por aí? - confesso que até eu fiquei com vergonha, mas mesmo assim dei uma moeda de um real.
Duas horas depois de muito "hahahaha", de olhar quase todas as lojas da região
(é claro que sempre carregando as sacolas), eu já estava meio estressado.
- Vamos comer? Quer comer oquê?
- Vamos de sanduba mesmo mãe!
- Então tá! Vamos ao mercado e comer pastel de bacalhau, hummmm! hahahahaha! Não sei por que carga d'águas ela me pergunta o que eu quero se ela já decidiu.
E toca eu voltar metade da Rua 25 de março com as malditas sacolas.
- Eu quero dois pastéis e um guaraná, daietí viu! - ela sacou o dinheiro.
- Ô mãe quer parar, dá até vergonha hein?
- Deixa de ser bobo moleque!...hahahahaha!
- Dois pastéis de bacalhau prá você, um pra mim e um sanduba de mortadela!
- E o colesterol? hahahahahaha!
- Ih mãe, não aporrinha!
- Tá meio frio né mãe?
- Pois é....hahahaha! - respondeu tirando uma blusa da bolsa.
- Eu não falei para você trazer um agasalho?
- Ah, mas eu não vou ficar andando com uma blusa e todas essas sacolas da madame!
- Azar o teu, eu tô quentinha, hahahahaha! - mãe não tem jeito, não erra uma!
- Toma, mas da próxima vez eu vou deixar você passar frio. - disse ela tirando uma camisa de flanela da bolsa.
- Hahahahahaha! Escuta teus pais para que te vás bem na vida (senão me engano é uma passagem bíblica) - em seguida tascou uma dentada no pastel de bacalhau.
- Sabe mãe a única pessoa que me irrita, que consegue me tirar do sério, é você! Ô mulher implicante, cri-cri.
- Hahahahaha! Você é meu e eu te conheço muito bem moleque!
- Mãe, eu te amo, você consegue me irritar, mas eu te amo muito!
Ela não disse nada apenas colocou minha cabeça em seu ombro para que eu me sentisse um menino novamente.

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