segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Luisa me dá tua mão (final)



No exato momento que Claudia avistou a Guta o quebra-quebra começou, conseguimos sair quase ilesos, alguns empurrões e uma bifa na fuça, o premiado com a bifa na fuça só poderia ser eu, ai meu nariz! A Guta parecia consternada, os olhos vermelhos de choro recente, fomos apresentados e acho que devido à situação ela não me deu muita atenção, mas eu sabia, sempre soube que era ela, apenas não a conhecia.
Durante dias fiquei com a imagem daquela mulher na minha cabeça, tinha que ser ela, dizem que quando encontramos nossa alma gêmea os anjos sussurram em nossos ouvidos, mas é preciso ficar atento e não esquecer a linguagem deles.
Conversei com o TUNHÃO, abri o meu coração e expus todo o meu sentimento, ele percebeu que eu não estava com brincadeira, que não era apenas um capricho e apenas me perguntou se eu tinha certeza, a resposta foi automática e explicativa.
-Eu sei que estou apostando alto e que as possibilidades são mínimas, mas eu quero me atirar naquele mar, quero sentir a força dele, quero ser tragado por aquelas águas, quero conhecer a profundezas, os perigos e as belezas que ele esconde atrás daquele azul.
TUNHÃO respondeu:
-Então você sabe o que dever ser feito, faça rápido antes que a situação fique pior!
Sim, eu sabia e hoje posso confessar o meu medo, não era um medo comum, era medo de machucar alguém que eu gostava muito, alguém que era importante na minha vida, alguém que dividiu risadas, histórias e aprendizado comigo.
-Ih, que cara é essa beibí?
Parece que ela estava adivinhando, eu realmente estava estranho (mais que de costume) e nervoso.
-Nada não, bobeira deve ser TPM masculina hahaha – Acho que não colou.
-Diz logo, o que está te aborrecendo, é comigo?
Pronto é agora ou nunca!
-Tá bom, eu vou te falar, mas você tem que prometer escutar até o fim.
Eu mal terminei a frase e a feição daquele semblante mudou totalmente, terminar o namoro com uma garota comum era uma novela mexicana, imaginem com a Luisa.
Expliquei a situação toda e surpreendentemente ela não sapateou, não gritou, não derramou uma lágrima, apenas disse uma coisa que até hoje não esqueço.
- Olha beibí, eu vou entender a tua decisão como um intervalo entre o primeiro e o segundo ato, nós ensaiamos muito e seria um desperdício parar agora, esta história ainda está no começo e tem que ser contigo.
Meu coração disparou, a boca secou, não estava conseguindo olhar nos olhos dela, eu estava decidido e não queria magoá-la, mas ela estava determinada e disse:
-Vai, sinta-se livre, segue o teu caminho como achar melhor, mas eu sei que você vai voltar.
Fui embora com um simples tchau e não olhei para trás, eu não estava chorando, mas senti as lágrimas no meu rosto, eu estava triste, estava decepcionado comigo mesmo, não existe sensação pior que esta, é bem melhor ser ferido que ferir, alguns lidam melhor com este tipo de dor, é mais fácil esconder-se e lamber as próprias feridas até que elas fiquem curadas do que sair ileso e ferir alguém.
A vida continua e eu estava concentrado naquela mulher, naquele destino incerto, eu apenas escutei os anjos e deixei que eles guiassem-me por aquele caminho desconhecido, iluminado, porém desconhecido.
Pedi ao TUNHÃO que não interferisse em nada, a Claudia e a Guta moravam juntas e isto poderia atrapalhar, eu 17, ela 25, um garoto apaixonado por uma mulher. O legal deste tipo de paixão é que você não vê nada, tudo é possível, em cada olhar, em cada sorriso existe uma nova possibilidade, ficamos tão cegos que acabamos por enxergar possibilidades onde elas não existem, e depois com calma entendemos que existe aquela pitada forte de insanidade em toda paixão.
Um mês e meio depois, num dia em que chovia cântaros, pude ouvir alguém chamando o meu nome do portão de casa e quando fui ver quem era, aliás, eu já sabia quem era, aquela voz era inconfundível, deparei-me com uma cena que nunca mais saiu da minha mente.
A chuva, o vento, as lágrimas, meu Deus eu sou um monstro!
Abracei Luisa e ela chorava, chorava agudo, doído, um choro interminável cheio de soluços, palavras desconexas, fiquei tão envergonhado que não consegui olhar nos olhos dela.
Minha mãe imediatamente trouxe uma toalha e um chá quente, não disse nada, apenas lançou-me um olhar cheio de decepção, do choro veio um silêncio, um silêncio angustiante, vazio.
Luisa colocou as mãos no meu rosto e olhou-me nos olhos, um olhar dilacerante, daqueles que chega à alma, que causa arrepios e disse:
-Quero te dizer hoje, o que eu nunca te disse, já entendi o tudo e quero apenas dizer o quanto te amo, quero agradecer todos os bons momentos que tive contigo, os pôr-de-sóis que assisti contigo, a risadas que demos juntos, as vezes que choramos juntos, tudo de bom que tivemos juntos, juntos...juntos...Eu vou te amar para sempre, você vai estar em mim por todos os meus dias, eu só queria te dizer isto, dizer que te amo.
O beijo foi inevitável e inesquecível, o último beijo, o último suspiro daquela história, depois deste dia encontrei Luisa apenas em pensamentos, num sorriso sapeca, em algum velho filme que assistimos juntos, num dia de chuva.
Outro dia, assistindo uma entrevista no programa do gordo eu me emocionei com aquele olhar lançado por aquela mulher de quarenta anos, o gordo perguntou se ela lembrava do primeiro amor, e ela respondeu que lembrava do primeiro e único amor todos os dias, mas o motivo da emoção, foi o olhar da menina sapeca que voltou por uma fração de segundos, aquele olhar nunca mentiu.


Continua...

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