segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Canalha

-Canalha! Você é um canalha asqueroso!

Foi assim de súbito, não houve sequer tempo de debandarmos, a Claudia chegou metendo o pé na porta, ela sabia que não poderia deixar nenhuma brecha para o TUNHÃO, ela conhecia bem o homem-sabão e naquele dia ele não escaparia.
A Claudia era muito bacana, descolada, tipo big sis (irmã mais velha), sempre disposta a ajudar, foi através dela que eu conheci a Guta, elas estudaram juntas e eram muito ligadas, o único defeito (hoje, não acho que seja um defeito) da Claudia era falar o que pensava na cara de qualquer um, sem reservas, sem medo. Lembro-me de algumas vezes que ouvi poucas e boas dela (principalmente por causa da Guta), ficava chateado, envergonhado, mas não existe nada que um pouco de reflexão e tempo não curem.
Eu tentei uma saída estratégica e silenciosa, mas fui impedido.
- Fica, fica e escuta assim você vê o que acontece com canalhas!
TUNHÃO ainda não havia dito uma palavra e continuou em silêncio. Um mês havia se passado desde o episódio da Bahia e durante este tempo eles não trocaram uma palavra sequer, mesmo freqüentando os mesmos lugares, tendo os mesmos amigos, até poucos dias atrás a Claudia estava completamente indiferente à presença do TUNHÃO, ninguém comentou nada, pois já conhecíamos o casal e sabíamos que mais dia menos dia eles acabariam cedendo.
O TUNHÃO estava um pouco chato, irritadiço, estava com o modo PQP ligado (modo PQP-qualquer coisa ou pessoa que possa causar aborrecimento você manda para a Lapa... op’s... para a PQP) e o que é pior, estava caladão, não estava distribuindo patadas e nem comentários sarcásticos.
-Por que você fez aquilo? Porque me deixou sozinha? Por que me fez de idiota? Você sabia muito bem que aquela viagem era importante pra mim, que eu iria encontrar com amigos de longa data. Você tem idéia da vergonha que passei por tua causa? Das desculpas que tive que dar? Nem um “tchau, tô indo...” isso é atitude de moleque! Cafajeste! Canalha! Por que você fez aquilo comigo?
-CIÚME!!! CIÚME, PORRA!!! A porra do ciúme estava me corroendo e para evitar uma besteira pior fui embora. Tá satisfeita? Tá explicado?
O terremoto verbal abalou as estruturas da Claudia, “ai meu Deus, era isto que eu queria ouvir” ficou estampado no semblante dela, se existe ciúme, existe amor, provavelmente foi o que ela pensou. Ela queria arrancar mais, queria ouvir diante de todos nós o que ele sempre se recusou a dizer, aquelas três palavrinhas que mudam qualquer relacionamento.
-Ciúme? Como você pode sentir ciúme? Nós estamos juntos, mas não estamos namorando, esqueceu? Você nunca disse que gosta de mim, nunca disse que queria um relacionamento sério, você sequer é meu namorado. “Vamos continuar assim, é melhor que qualquer compromisso.” É isso que você fala o tempo todo, como você pode ter ciúme? Como você pode ter ciúme de alguém que você não ama?
Se fosse um jogo de xadrez este seria o xeque-mate, a única saída era dizer a verdade, dizer o obvio e o TUNHÃO não admitia. Mas como dizer isto diante de outras pessoas? Dizer “Eu te amo” naquela circunstância era improvável, o TUNHÃO não ia conseguir, pode parecer estranho, mas para quem conheceu aquele poço de “delicadezas”, sabia que era mais fácil o cometa Halley aparecer novamente do que ele falar “Eu te amo”.
Surpreendentemente (podem acreditar que foi um momento único) TUNHÃO disse apenas:
-Escuta!
E tocou uma música do Tom e do Vinicius.



Durante e depois da música pudemos perceber os olhos da Claudia, emocionados, tentando conter as lágrimas. TUNHÃO segurou na mão da Claudia e disse:
-Vem comigo, vem conhecer o teu destino, vem ser feliz!
Este, sem sombra de dúvida foi o “Eu te amo” mais estranho que presenciei.

Continua...

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