segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Fotografia


Antes de contar esta história tenho que falar sobre uma figura de grande importância nestas loucas aventuras oitentistas.

Nêgo-boy era uma figura e tanto, malandro, mas não do tipo “mano”, era descolado, bom de papo, daqueles que hipnotizam as pessoas, gostava de dançar samba-rock, freqüentava a sociedade Rosas de Ouro, foi batizado em igreja católica, gostava do som do atabaque e era devoto do Zé Pelintra.
Era o tipo de pessoa que conversava sobre vários assuntos, qualquer um mesmo, futebol, política, literatura, religião, música, culinária, o cara era muito culto mesmo e eu só fui entender o porquê de tanta cultura após conhecer os pais dele.
A mãe era pedagoga e fazia parte de uma destas organizações de conscientização dos direitos dos negros, ela tinha uma biblioteca enorme, a maioria dos livros era em inglês, no Brasil eram raros os livros que abordavam os mesmos assuntos, nossas conversas eram recheadas de Kunta Kinte, Ku Klux Klan, Black Panthers, etc… eu adorava ouvir as explicações e as histórias que aquela ex-dançarina proporcionava-me.
Ah, é verdade, ela era dançarina em um show de mulatas, segundo ela, o pai do Nêgo-boy demorou um ano para tomar coragem e conversar com ela, mas em compensação, após um mês de namoro eles casaram.
O pai do Nêgo-boy é um capitulo a parte, engenheiro que gostava de ser professor Pardal, e eu era o assistente oficial, ele sempre me dizia que se algum dia conseguisse inventar algo que fizesse sucesso, citaria meu nome como co-inventor. Mas eu estava mesmo interessado em aprender algo com ele e dar algumas risadas, ele que me desculpe se algum dia ler estas linhas, mas a cara que ele fazia quando algo não dava certo era impagável.
O apelido Nêgo-boy foi dado pelo Primo Preto (um dos freak brother’s) depois que o Nêgo-boy começou a fazer uns freelas como modelo, descolado como era começou a freqüentar altas festas e fazer bons contatos, era muito engraçado quando ele conseguia convites para nós, aquelas festas no Morumba, Jardins, hotéis e mansões, e nós chegando de Kombi, estacionando entre os roll’s, jaguares e Mercedes, totalmente bizarro.
O TUNHÃO andava desesperado para levantar uma grana estava até fazendo segurança em uma boate de luxo, mas a grana era pouca , quando ele colocava uma coisa na cabeça, não havia quem tirasse.
Certo dia estávamos no “ponto certo” tocando e falando sobre um tal de Baghwan e seus ensinamentos, quando o TUNHÃO chegou e começou a lamentar, dizendo que com aquela merreca que ele estava ganhando iria demorar um ano para juntar a grana que ele queria e desabafou:
-Tô me matando por merreca, PORRA!
Foi a deixa que o Nêgo-boy estava esperando, eu tenho impressão que ele estava esperando o momento certo para falar.
-Rapá, você não vai acreditar, mas pintou um freela legal e paga bem!
-Não acredito mesmo, se for esse negócio de desfile, esquece!
-Eu querendo te dar uma força e você fala assim comigo, vê direito TUNHÃO! Sou teu bródi, mas não abusa!
-Foi mal…mas que freela é esse?
-Fotos para uma revista gringa, ensaio sensual, mas é sozinho, o fotografo está precisando de alguém fotogênico, topa?
-Foto? Ensaio sensual? Tá maluco?
-500 doletas (anos 80)
-ÃH?!?!?!Quando?
-Pode ser amanhã mesmo.
-Tô dentro!
Infelizmente não pude ir com eles, queria ter assistido a cena, segundo o Nêgo-boy o TUNHÃO só ficou uma fera quando disseram para ele raspar os pelos do peito e do abdômen.
Dias mais tarde o TUNHÃO nos mostrou o anel que ele comprou com a grana, realmente muito bonito, mas a pergunta foi inevitável.
-Porque tanto sacrifício?
-Vocês não entendem PORRA nenhuma de mulher mesmo! Não é o valor monetário, tampouco a jóia, é a prova de sacrifício que eu quero dar de presente.
Uaaauuu! Silêncio geral, esse TUNHÃO sempre surpreendendo.
A única coisa que o malandro do Nêgo-boy não contou para o TUNHÃO, mas nos confidenciou e nos fez prometer silêncio eterno, era que as fotos iriam ilustrar uma revista gay européia.




Continua....

Nenhum comentário: